Yoga e Equilíbrio
Atualizado: 10 de set. de 2020
Iyengar, em seu livro “Luz na Vida”, diz que para se alcançar o equilíbrio devemos ter percepção para ouvir e compreender nosso corpo em todos os seus níveis de existência, sabendo que esse corpo não é somente o templo da Alma (atma), mas o meio pelo qual podemos reconhecê-la.

Sendo o corpo um dos principais veículos utilizados para perceber a importância de buscar um centro e retornar a nossa consciência divina, Iyengar considera a prática de yogasana uma grande ferramenta para o autoconhecimento e desenvolvimento espiritual, usando a prática de asanas e pranayamas para entender com discernimento e sensibilidade às necessidade do corpo físico, compreendendo os estados transitórios da mente para se chegar a um estado de equilíbrio, plenitude e contentamento.
No entanto, não podemos ver a prática de asanas como um simples exercício físico, mas uma grande oportunidade de vivenciar o corpo com integridade, ouvindo seus sinais, compreendendo suas sensações, sentidos, desejos e flutuações, se tornando consciente de tudo o que acontece por dentro do nosso Ser mais íntimo. Embora a prática de asanas pareça inicialmente um desenvolvimento apenas físico e externo, a partir do ato de entrega, percepção e objetivo, o praticante é sensibilizado e convidado a ver e sentir sua real intenção: o equilíbrio do corpo, mente, e alma, se conectando com a essência divina contida em cada Ser, gerando virtudes e abrindo espaço para o desapego aos prazeres do mundo material. O asana ganha o papel de professor pessoal, ensinando o praticante a vivenciar a vida com clareza e presença através da consciência corporal e da auto observação. Essa auto observação gera questionamentos profundos sobre nossa personalidade, desejos e atitudes que muitas vezes são influenciados pelos meios externos. A partir do momento em que passamos a nos observar e perceber os estados pelos quais transitamos constantemente, temos a oportunidade de rever o valor e o peso de cada experiência e emoção, analisando a importância que damos aos contratempos cotidianos. Passamos a buscar uma rotina mais serena, com mais presença em cada ação e em cada gesto.
A prática de “Asana traz firmeza, saúde e leveza aos membros. Uma postura estável e agradável confere equilíbrio mental e evita a inconstância da mente” (Luz sobre o Yoga, p.44).
Para alcançar esse estado integral de equilíbrio, precisamos compreender que no mundo somos regidos por três modalidades da natureza material, chamados de gunas, e que se dividem em três partes: tamas (ignorância), rajas (paixão) e sattva (bondade), essas três energias interagem entre si e produzem o universo que vivemos.
Segundo a filosofia hindu, o mundo inteiro está contido nessas três energias e cada uma, segundo sua natureza, traz consequências.
Quando tamas está predominante em nossa mente nos sentimos letárgicos, preguiçosos, apáticos, sem ânimo e procrastinamos.Nos sentimos desamparados, confusos, sonolentos e incapazes de utilizar nossa energia para algo proveitoso, tamas nos mantêm em inércia. Quando rajas predomina, passamos por estados de ansiedade, inquietação, agressividade, raiva, ganância, a mente cria um pensamento atrás do outro gerando diversos desejos, desejos que geralmente são ilusórios e de satisfação momentânea e compulsiva, tudo vira uma agitação. Em sattva, contemplamos a alegria, a felicidade, a criatividade e clareza mental. Nos tornamos simpáticos, receptivos e amparadores, cooperamos, temos vitalidade e aprendemos a estar em completo estado de contentamento pela vida.
Na prática de asanas, devemos buscar reconhecer essas energias, suas qualidades e quando esses estados se tornam latentes em nossa vida. Esse reconhecimento se dá através da constante observação não só na prática de asanas, onde almejamos expandir nossos sentidos para transformar esses estados em estados cada vez mais positivos, mas também na vida cotidiana, em nossas relações, atitudes, pensamentos e ações.
“O yogi compreende que sua vida e todas as suas atividades são parte da ação divina na natureza, manifestando-se e operando na forma humana. No batimento de seu pulso e no ritmo de sua respiração, ele reconhece o fluxo das estações e a palpitação da vida universal. Seu corpo é o templo que habita a centelha Divina… O yogi não olha para o céu para encontrar Deus, porque sabe que Deus encontra-se em seu interior, conhecido como Antarãtmã (o Ser Universal Interior). Ele sente o reino de Deus dentro e fora dele e entende que o paraíso reside nele mesmo” (Luz no Yoga, p.45).
Quando nos permitimos acessar as portas que cada asana proporciona abrir, somos capazes de despertar em nós a consciência do Divino, descobrimos que muito além do corpo físico, temos muitos outros corpos: sutis, emocional, mental...e todos constantemente interagindo entre si. Irradiando energias positivas ou negativas, dependendo dos estados em que nos permitimos estar.
Concluímos então que, o verdadeiro equilíbrio é ter controle sobre essas diversas manifestações, emoções e pensamentos em todos os aspectos da nossa vida. Por isso, esteja atento e vigilante a tudo que tira seu equilíbrio, busque a paz, a tranquilidade e a harmonia em tudo e em todos os seres, reconhecendo em cada Ser a mesma centelha divina que habita em nós e que a todo momento está a florescer.
Que todos os seres sejam felizes e haja paz! Namastê!