O que é Dharma?
Atualizado: 10 de set. de 2020
No comentário de Introdução da escritura Bhagavad Gita, o mestre Adi Shankaracharya, explica que o Dharma foi ensinado pelo Senhor Narayana, através dos Vedas, para os progenitores desta criação. A intenção era revelar a busca do Homem pelo mais alto benefício, sua realização na forma de liberdade. Tal busca se dividia em dois caminhos, sendo o primeiro o da ação para que os seres humanos vivessem em harmonia, onde poderiam obter prosperidade material e realização de seus desejos dentro da ordem cósmica. Para isso, haveria de se passar pelas experiências necessárias para exaurir os karmas e amadurecer subindo os degraus na direção do caminho espiritual. Em seguida, foi ensinado a outro grupo de pessoas o conhecimento de nossa verdadeira natureza, que é a própria realidade absoluta. O que removeria nossa ignorância e nos garantiria a libertação do samsara, a roda de mortes e renascimentos ou como dizia Swami Dayananda Saraswati, a constante busca por tornar-se diferente daquilo que já somos. Isso é samsara.
Dessa forma, o Dharma foi sendo passado de geração em geração do modo tradicional, o que garantiu sua chegada até os dias atuais. Mas, o que é Dharma? Dharma é aquilo que uma pessoa deve seguir para se manter de acordo com a totalidade. São valores e virtudes expressos em um sistema de classes sociais e estágios de vida, nos quais temos deveres a serem cumpridos. E se feitos baseados nesses pilares, contribuem para a harmonia do mundo, onde cada ser humano teria uma função dentro desse sistema, um dever chamado Svadharma, Dharma individual.
Atualmente, se falar em Dharma nos termos de classes sociais e estágios de vida até na Índia já não é tão usual, pois esse formato é característico dessa cultura especificamente. Nas outras culturas talvez tenhamos estruturas parecidas, mas todas muito diluídas pelo estilo de vida atual mergulhado no intenso materialismo e superficialidade das relações humanas. Precisamente por isso é preciso resgatar o conceito de levar uma vida de Dharma, pelo bem coletivo e também individual. Ao seguir o Dharma, voltamos a dançar em harmonia com a vida. Somos mais felizes e tranquilos e estabelecemos uma relação saudável com o mundo.
Swami Dayananda Saraswati falava em Dharma em termos de se tornar um contribuidor. Ao pensarmos nas nossas conquistas, se não estamos tendendo ao egoísmo, podemos enxergar claramente que em qualquer sucesso nosso, ele nunca parte somente de um fator individual. Há um conjunto de inúmeros outros fatores na forma de pessoas, coisas ou situações, que ao se alinhar contribuíram para que aquele resultado fosse alcançado. Dessa forma, segundo ele, tudo nos é dado, como o corpo, a mente, a família, as condições, as pessoas e as situações. E se eu reconheço que recebo tanto, será que também não devo contribuir? É virar uma chavinha e entender que tudo na natureza segue uma ordem, uma lei universal, que é a lei do Dharma.
Ou seja, primeiro reconhecemos que tudo nos é dado e por isso mesmo contribuímos para a totalidade. Na tradição, se diz que aqueles que protegem o Dharma, são protegidos por ele. Proteger o Dharma significa fazer o que deve ser feito. O que é esperado de nós em cada situação da nossa vida, como por exemplo quando nos relacionamos com nossos pais. Nessa situação é esperado que sejamos filhos. Mas quando nos relacionamos com nossos filhos é esperado que sejamos pais. Cada momento da nossa vida vai exigir de nós um papel e a nossa atitude deve ser essa: Cumprí-lo com excelência. Ao desempenhar qualquer papel, por menor que ele seja, fazê-lo como uma oferenda nesse altar que é o universo e assim nos harmonizamos de dentro para fora.
Em resumo: é a atitude que faz com que mudanças internas aconteçam na forma de sentimento crescente de paz, dever cumprido, segurança, compaixão, altruísmo, generosidade e felicidade. Isso vai ecoando para o mundo exterior, onde as pessoas vão notando que algo mudou e que esse algo é positivo. É como se tudo que está dentro, agora transbordasse de uma forma tão generosa e fluída, que acaba por inspirar aqueles cujo a disposição por refinar-se está pronta para germinar.
É bem dito: “Seja flor por onde for”. Você cultiva sua flor e então pode semear os jardins da vida com atos de amor. Ou seja, na nossa busca por harmonização com a vida, que muitas vezes começa por motivos individuais como pela infelicidade, depressão ou sentimento de falta constante, ao nos abrirmos para essa nova dimensão de enxergar esse mundo e de como viver a vida, passamos não só a nos ajudar, mas a ajudar todos ao nosso redor. Assim, o caminho é muito mais gratificante, pois é partilhado. Dessa forma, que todos os dias possamos ser generosos e contribuir com uma pequena coisa que seja. Afinal, compartilhar é o que faz um ser humano de fato bem sucedido e genuinamente feliz.