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Equilíbrio, vendo as coisas exatamente como são.

Atualizado: 10 de set. de 2020

A ideia de equilíbrio vem muito associada à balança ou então ao caminho do meio. Algo estático. No entanto, quando se trata de qualquer coisa no mundo, tudo está em constante mudança e tem um movimento pendular. Assim como as marés vem e vão, nossas emoções também vem e vão. Isso significa que quando eu tenho uma experiência muito intensa de euforia, logo em contrapartida terei uma de depressão e elas se dão em uma mesma proporção. É por isso que o cultivo do equilíbrio interior é tão importante na caminhada espiritual ou simplesmente para viver uma vida saudável.


Quando estamos em extremo desequilíbrio tendemos a buscar soluções seja nas terapias, religiões ou espiritualidade. Percebemos que precisamos de um suporte já que a tarefa parece estar além da nossa própria capacidade. Isso é uma benção, pois é quando nos vemos completamente sem saída é que buscamos ajuda e damos o primeiro passo para resolver o problema.


É curioso como algo tão próximo e tão íntimo de nós seja tão desconhecido. Estou falando da mente humana. Nela temos uma faculdade que oscila, que é nosso corpo emocional e uma outra faculdade que é assertiva, responsável pela tomada de decisões, que é o intelecto. Ambos são importantes para que possamos viver no mundo das transações. No entanto o que acontece é que seus papéis se mesclam e muitas vezes deixamos as emoções nos governarem, quando quem tinha que ter a voz era nossa razão.


Imagine que seu corpo é uma carruagem onde há duas pessoas sentadas na frente e dentro está sua essência, como passageira, apenas observando. Uma dentre essas duas que estão sentadas é o cocheiro com habilidades para domar os cavalos, essa seria a razão, ou intelecto. A outra é uma pessoa que gosta de aproveitar a vida, também tem grandes habilidades, mas tende a se exceder. São as emoções. Vez ou outra, ir por caminhos desconhecidos, descobrindo novas paisagens, fazendo com que os cavalos corram um pouco, se encantando no processo, com direito a frio na barriga e borboletas no estômago é muito bom. Mas ir sempre em busca de aventuras faz com que a jornada se alargue e muitas vezes a carruagem toma um ritmo desgovernado. As emoções são assim. É por isso que o intelecto precisa estar sempre preparado para tomar as rédeas e trazer a objetividade para nossa vida. Só assim podemos viver de forma inteligente.


O equilíbrio consiste em colocar cada coisa em seu lugar. Há momentos em que a carruagem pode sim ser guiada pelas emoções, mas no geral quem comanda é o cocheiro, o intelecto. E este tem que ser firme e perseverante. Para que quando for necessário ele possa tomar as rédeas da vida.


Um fator que agrava o cenário do desequilíbrio é o fato de que constantemente projetamos nossa realidade subjetiva no mundo, nas pessoas e nas situações. Chegamos a um ponto em que não enxergamos a diferença entre os dois. É aí que criamos uma agenda para as coisas e principalmente para as pessoas próximas a nós. O problema da subjetividade é que ela está fadada ao fracasso, pois existem muitos mais fatores que não controlamos do que os que controlamos, portanto, nossa agenda muitas vezes não é cumprida. Culpamos o mundo por criarmos expectativas irreais sobre ele. De fato, a única coisa que controlamos é nossa atitude diante das coisas, e ainda assim com muito custo. A chave, no entanto, reside nesse grande poder que o ser humano tem: A vontade.


Existe uma glorificação da intensidade hoje em dia. Nossas emoções têm que sempre tender ao exagero, do contrário não são reais, não são profundas. Isso é uma completa ilusão. Um sábio é aquele que mais tem profundidade e maturidade emocional e em igual proporção é o que tem a vida mais equilibrada e serena.


A figura do sábio sempre está presente nas escrituras e suas qualidades são glorificadas. O objetivo é o de incentivar os buscadores do autoconhecimento a seguir os passos desse conhecedor da verdade. Dessa forma o que para um sábio é natural, para os sadhakas, os que estão na busca, é algo a ser cultivado através da força de vontade. Além disso ninguém nasce sábio, um dia este também foi um sadhaka, portanto é um exemplo vivo de que a realização e a libertação são possíveis.


Uma qualidade do sábio é samacitatvam, ter uma postura “mais ou menos igual” diante de todos os eventos da vida, como dizia Swami Dayananda Saraswati. Ou seja, quer uma situação seja agradável ou desagradável, na visão do sábio as duas são apenas situações. O sábio as encara com objetividade. Assim, samacitatvam é a não reação às situações. Isso permite que haja espaço para frearmos a projeção da nossa subjetividade pelo ego. E assim ao invés de reagir se torna possível agir com deliberação. E quando agimos estamos vivendo de forma inteligente.

Ao aceitarmos as coisas como elas são, aprendemos a reduzir nossas projeções subjetivas e deliberadamente contemos nossas reações. Seja através de respirar fundo ou dar um tempo. Permitimos que o intelecto volte ao seu papel e que as emoções se acomodem no banco do passageiro.


O pêndulo vai deixando de balançar nos extremos e vai ficando mais próximo do centro. A vida se torna uma serie de eventos com os quais nos relacionamos com presença. Permitimos que ela se desvele diante de nós. Ganhamos gosto por ter a atitude apropriada e evitamos que as consequências das reações pesem na nossa mente. Dessa forma estamos em equilíbrio. Consegue perceber a paz que isso pode trazer? Estar em equilíbrio é dançar no ritmo da vida. Todos somos capazes de atingir essa harmonia através dessa jornada da subjetividade para a objetividade. Como dizia Platão – cada coisa em seu lugar e não há mal no mundo. Ter valor pro ver o mundo como ele é e aceitá-lo da maneira mais graciosa possível dentro do momento em que se está.


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