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Contentamento e Alegria


Você já presenciou o desabrochar de uma flor? Como seus movimentos lentamente impulsionados de dentro para fora vão liberando e soltanto suavemente cada pétala, cada camada de proteção que envolve seu centro de forma gentil e macia, até que finalmente, quando todas as pétalas se expandem para fora, o desabrochar está completo e a flor graciosamente recebe o alento divino da luz do sol, nutrindo todo seu ser e purificando toda sua estrutura. Nesse momento é possível perceber o contentamento e o brilho da flor ao finalmente se abrir ao mundo, estar receptiva a vida e a sua nova fase, vivenciando o infinito ciclo de vida e morte, crescimento e amadurecimento, formação e transformação. E eis que assim como as flores, somos seres em busca de um constante desabrochar, porém, muitas vezes nos esquecemos do processo que ocorre anterior a esse estágio da vida, abandonando e menosprezando as experiências e situações que nos é acometido no dia-a-dia, nos privando do momento presente em troca de ilusões futuras, metas a serem alcançadas e possíveis realizações.


No entanto, sabemos que na vida nada mais existe que o momento presente, este agora! O passado já se foi e o futuro está sempre por vir. Dessa maneira, o fluxo natural da vida seria vivenciar, apreciar, perceber e sentir integralmente cada movimento, cada situação, emoção e pensamento a fim de reconhecer em todas as coisas a presença divina que faz tudo crescer e prosperar.


Nos yoga-sutras, Patanjali descreve essa apreciação pela vida como Santosha, estado de contentamento.


“santosadanuttamah sukhalabhah”

“Do estado de contentamento surge intensa alegria” (Yoga sutra 2.42).


Dessa maneira, o estado de contentamento seria voltar a atenção para apreciar e vivenciar os aspectos bons da vida, não só em momentos alegres e em paisagens bonitas, mas nos momentos onde nossa fé é testada e nossa vitalidade e confiança é colocada em prova pelas provações da vida, nos fazendo enxergar que as pedras que encontramos no caminho não precisam ser necessariamente obstáculos, mas podem servir de base para construirmos nossa escada rumo a iluminação da consciência, alcançando a transcendência dos estados físicos e materiais e ingressando em estados mais sutis e duradouros, reconhecendo a eternidade do nosso espírito e desapegando das ilusões do mundo.


Contentamento é alegria, e alegria é um corpo repleto de vida, é contemplar cada gesto, palavra e ação, reconhecendo em cada uma delas um grande ensinamento a ser aprendido.


Alegria é afirmar a vida em sua totalidade. Spinoza, um grande filósofo do século XVII, diria que existe apenas um afeto no mundo, a alegria, e que Deus não criou o mundo, mas é o mundo em sua totalidade e existência. Para Spinoza, tudo o que existe no planeta como matéria é manifestação finita dessa força infinita e transformadora que se chama ação. E ação para ele é Deus, a essência que nos move. Dessa maneira Deus é a própria vida, se movendo e transformando constantemente dentro e fora de cada um de nós.


A alegria não é ser reconhecido, não é ter bens materiais, riqueza, fama, alegria não é uma busca por aceitação ou ser um modelo de “ser humano” imposto pela sociedade. A verdadeira alegria é um estado vibracional de ação que se ativa quando somos capazes de perceber e vivenciar os processos da vida com integridade, reconhecendo, e se nutrindo de suas experiências, deixando desabrochar e florescer o desenvolvimento da consciência divina adormecida no interior de cada um de nós.


Uma mente em estado de contentamento se torna mais criativa, concentrada e alerta. Quando praticamos o contentamento pela vida nos abrimos as infinitas possibilidades que o universo tem a nos oferecer, os caminhos se abrem e o fardo se torna leve, abandonamos as flutuações da mente que causam tristeza e desilusão e focamos nossa energia apenas ao que nos nutre e nos aproxima de todos os seres, fortalecendo o amor e a alegria de viver.


E como sugestão de exercício para praticar o contentamento, reserve alguns instantes ou até mesmo um dia para apreciar sua existência, as pessoas que fazem parte dela, as paisagens nos caminhos, apreciar quem você é hoje e quem você já foi um dia, aprendendo a olhar a vida sempre de uma perspectiva positiva e transformadora. Observe a beleza de uma flor, o sorriso de uma criança, o carinho numa mensagem, e aquela palavra amiga daqueles que amamos, busque motivos para agradecer e contemplar. Se quiser, anote as percepções e sensações que teve durante o processo e compartilhe com a gente, quando trocamos experiências podemos aprender a expandir esses olhares, ampliando sempre a jornada do autoconhecimento através da troca.


Que todos os seres sejam alegres e haja luz! Namastê.



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